Por: Beatriz Souza
Sob a mesa, uma
garrafa de vinho branco compunha a escrivaninha, junto a alguns
livros e uma pequena garrafa de cachaça amarela com símbolo do seu
time, Palmeiras. Rafael Bellan Rodrigues de Souza, 31 anos, pai da
pequena e adorável Anita, é professor de comunicação social na
Universidade Federal do Amazonas, tem um currículo apresentável, ou
melhor, e extenso por sinal.
Possui doutorado em
Sociologia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(UNESP), mestrado em Comunicação Midiática pela UNESP (2006) e
graduação em Comunicação Social - Jornalismo também pela UNESP
(2003).
Passou em uma das
universidades públicas mais disputadas, era aluno do movimento
estudantil sempre engajado, além de participar de movimentos de
ocupação junto com Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
(MST).
Depois de concluir sua graduação, passou direto para o mestrado, e
ao concluí-lo trabalhou um pouco como jornalista na assessoria de
imprensa e coordenador da radio universitária na Universidade
federal de são Carlos (UFSC). Lá começou a se envolver com aula.
Na verdade, a ideia de ser professor surgiu no momento em que estava
fazendo o mestrado. Lá descobriu que queria isso para o resto da
vida, em suas palavras “Não
queria só ficar fazendo lead”,
embora gostasse de ser jornalista, percebeu que tinha um potencial
maior pra estudar, pesquisar e escrever.
Logo depois, surgiu
a oportunidade de fazer jornalismo cultural, topou o convite de ser
editor de história em quadrinhos em São Paulo capital, e isso caiu
como uma luva, sendo que, sempre gostou e teve uma afinidade com
quadrinhos. E nesse mesmo momento teve a felicidade de passar no
doutorado, mas, ao mesmo tempo como disse ele “Aí
eu fiquei lascado morando em são Paulo capital, trabalhando 8 horas
por dia e ainda fazendo doutorado, eu lia no metro pendurado, tinha
que soltar uma das mãos pra sublinhar algo no livro. Tinha que ralar
pra estudar, e foi uma loucura”.
Com tudo isso teve
um impasse, a situação era meio incompatível, a vida profissional
deslocada de uma vida acadêmica. E a oportunidade de se manter na
área profissional universitária surgiu quando apareceu o concurso
público pra Parintins. Então largou os quadrinhos e se fixou na
área por lá. Disse já ter ouvido falar da terra do boi-bumbá,
“Alias
já sabia antes de Parintins, quando vi aquelas mulheres bonitas
dançando com penas, requebrando os quadris na televisão. Achava
bacana Garantido e Caprichoso, sempre soube que o vermelho é mais
bacana porque, sempre tive esse envolvimento com vermelho”
(risos).
Uma das guinadas
profissionais e importantes já conquistadas até hoje é a carreira
acadêmica que escolheu seguir. Sempre gostou de falar e ser ouvido,
além do mais pesquisar é uma das coisas que gosta de fazer, e disse
ele todo empolgado: “Consegui
juntar duas perspectivas que eu sempre tive que é de produzir
coisas, ler, estudar e ganhar para estudar, ou seja, tenho o melhor
emprego do mundo”.
Um dos pontos que
chamou atenção em suas palavras foi quando falou: “Eu
tenho liberdade, tenho autonomia de enfoque. Ninguém vai calar a
minha boca, eu posso falar o que eu quiser, e eu já tive vários
constrangimentos profissionais por falar o que eu queria”.
Conquistou muitas coisas e uma delas é essa autonomia a que ele se
refere algo que ninguém pode tirar. Segundo ele hoje, é normal em
seu trabalho haver esses constrangimentos, sabia que ao entrar nessa
profissão iria passar por isso.
Um dos momentos
marcantes em sua vida pessoal foi quando saiu de casa aos 18 anos,
para estudar jornalismo e morar sozinho, com a vontade de dominar o
mundo intelectual. O segundo momento foi seu casamento. Conheceu
Claudia no ultimo ano da graduação, ela também engajada nos
movimentos estudantis, e logo depois de três meses de namoro já
estavam casados. Ela também se tornou professora e isso facilitou
muito, “Além
de ser uma companheira muito legal, liberal, nunca foi ciumenta, e
pensamos muito parecidos”.
E outro momento importante muito especial em sua vida pessoal, foi a
chegada da Anita, sua filha. “Anita
é um brilho, o sorriso dela ilumina o mundo todo, ela é uma graça,
apaixonante. Ser pai é muito bacana, e eu pude ser pai adotivo por
ser pai de verdade. Fui pai e mãe, eu dei mamadeira, troquei fralda,
dei banho, fazia comida”,
diz ser um pai coruja.
Aos finais de semana
e horas livres gosta de ver filmes, ler quadrinhos, gosta de sair pra
beber, conversar, e gosta muito desse universo de leitura. Um dos
filmes que marcaram sua vida foi Clube
da Luta, onde
constrói o modelo de consumo. O filme
oito e meio do
Frederico Feline,
e também o Diário
de motocicleta,
que fala sobre a juventude de Guevara. Os livros que marcaram sua
vida foram de Machado de Assis, Memórias
póstumas de Brás cubas.
Leu quando era menino e pirou com o livro, bem realista por sinal.
Outro livro marcante foi o conto A
Metamorfose do Káfica.
E o terceiro livro O
Estrangeiro, de
Albert Camus,
que mostra a ideia de alguém que está fora da sociedade estando
dentro dela ao mesmo tempo, se chocando com os comportamentos que tem
que tomar em algumas situações.
Uma das viagens mais
legais que já fez foi sozinho, em 2010, pra Porto Alegre, no Fórum
Social. O melhor de tudo foi ter conhecido várias pessoas. Outra
viagem legal foi à Florianópolis, onde estavam Cláudia e Anita, “A
sensação incrível de mostrar a praia pela primeira vez a uma
criança, foi emocionante”. E sua vontade de conhecer outros
lugares é imensa.
Rafael cita que têm
mais vocação para o trabalho intelectual do que manual. É péssimo
em trabalho manual, mas tenta quebrar um pouco esse dualismo de
prática e teoria. Sempre teve esse envolvimento com a política e
prática. E quanto a seu perfil como pessoa, ele diz: “eu acho que
eu sou uma pessoa extrovertida, nunca fui pra baixo, nunca fui
triste, acho que eu tenho um perfil meio pra cima assim, né!”.
Seus planos
profissionais para o futuro é de continuar seguindo carreira
acadêmica, como professor universitário, “Eu não tenho duvida
nenhuma que eu estou no ramo certo, é o que eu mais me identifico,
eu gosto de dar aula, gosto de estar em sala, conversar com os
alunos”. Não tem pretensão de ficar em Parintins até se
aposentar, quer ir para outra região em algum momento, vontade de
estar em outros espaços, outras universidades. Estar perto da
família é uma de suas grandes vontades a ser conquistada para o
futuro, até porque Parintins é distante, e nem sempre é possível
estar próximo dos parentes.
Atualmente compõe a
chapa da (ADUA), movimento sindical onde milita como 3°
vice-presidente, tem uma perspectiva de luta docente no movimento. Já
foi muito próximo ao movimento MST, onde lecionou um curso de radio
popular, trabalhou muito em acampamentos.
Como sociólogo
também tem sua visão em relação ao desenvolvimento do Brasil.
Destaca que o Brasil não é o país
das realizações, e sim das contradições, que tende a piorar a
cada dia, e está em direção ao caos social, onde as pessoas estão
se tornando cada vez mais aprisionadas ao consumismo. As crianças e
jovens não leem mais livros, ou assistem bons filmes, estamos indo a
todo vapor em direção à desordem. O sofrimento das pessoas é cada
vez mais visível, elas estão mais estressadas e deprimidas, “A
realização hoje nesse país é isso, consumir é a verdadeira
riqueza, gente está abandonando a riqueza artística, cultural,
intelectual, as pessoas estão cada vez mais indóceis, cada vez mais
idiotas, vendo programas cada vez mais toscos. Há um esvaziamento,
um vazio intelectual, uma pobreza ideológica, uma miséria cultural
muito intensa, tudo que se faz só se faz como mercadoria”. Porém,
é otimista e acredita que podemos mudar o rumo das coisas, mas acha
que o Brasil está muito longe de ser um país das realizações.
Como podemos mudar isso professor Bellan? De que tipo de programas o senhor esta falando?
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