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sexta-feira, 15 de março de 2013

Entrevista perfil com Rafael Bellan

  Por: Beatriz Souza
Sob a mesa, uma garrafa de vinho branco compunha a escrivaninha, junto a alguns livros e uma pequena garrafa de cachaça amarela com símbolo do seu time, Palmeiras. Rafael Bellan Rodrigues de Souza, 31 anos, pai da pequena e adorável Anita, é professor de comunicação social na Universidade Federal do Amazonas, tem um currículo apresentável, ou melhor, e extenso por sinal.
Possui doutorado em Sociologia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), mestrado em Comunicação Midiática pela UNESP (2006) e graduação em Comunicação Social - Jornalismo também pela UNESP (2003).
Passou em uma das universidades públicas mais disputadas, era aluno do movimento estudantil sempre engajado, além de participar de movimentos de ocupação junto com Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. (MST). Depois de concluir sua graduação, passou direto para o mestrado, e ao concluí-lo trabalhou um pouco como jornalista na assessoria de imprensa e coordenador da radio universitária na Universidade federal de são Carlos (UFSC). Lá começou a se envolver com aula. Na verdade, a ideia de ser professor surgiu no momento em que estava fazendo o mestrado. Lá descobriu que queria isso para o resto da vida, em suas palavras “Não queria só ficar fazendo lead”, embora gostasse de ser jornalista, percebeu que tinha um potencial maior pra estudar, pesquisar e escrever.
Logo depois, surgiu a oportunidade de fazer jornalismo cultural, topou o convite de ser editor de história em quadrinhos em São Paulo capital, e isso caiu como uma luva, sendo que, sempre gostou e teve uma afinidade com quadrinhos. E nesse mesmo momento teve a felicidade de passar no doutorado, mas, ao mesmo tempo como disse ele “Aí eu fiquei lascado morando em são Paulo capital, trabalhando 8 horas por dia e ainda fazendo doutorado, eu lia no metro pendurado, tinha que soltar uma das mãos pra sublinhar algo no livro. Tinha que ralar pra estudar, e foi uma loucura”.
Com tudo isso teve um impasse, a situação era meio incompatível, a vida profissional deslocada de uma vida acadêmica. E a oportunidade de se manter na área profissional universitária surgiu quando apareceu o concurso público pra Parintins. Então largou os quadrinhos e se fixou na área por lá. Disse já ter ouvido falar da terra do boi-bumbá, “Alias já sabia antes de Parintins, quando vi aquelas mulheres bonitas dançando com penas, requebrando os quadris na televisão. Achava bacana Garantido e Caprichoso, sempre soube que o vermelho é mais bacana porque, sempre tive esse envolvimento com vermelho” (risos).
Uma das guinadas profissionais e importantes já conquistadas até hoje é a carreira acadêmica que escolheu seguir. Sempre gostou de falar e ser ouvido, além do mais pesquisar é uma das coisas que gosta de fazer, e disse ele todo empolgado: “Consegui juntar duas perspectivas que eu sempre tive que é de produzir coisas, ler, estudar e ganhar para estudar, ou seja, tenho o melhor emprego do mundo”.
Um dos pontos que chamou atenção em suas palavras foi quando falou: “Eu tenho liberdade, tenho autonomia de enfoque. Ninguém vai calar a minha boca, eu posso falar o que eu quiser, e eu já tive vários constrangimentos profissionais por falar o que eu queria”. Conquistou muitas coisas e uma delas é essa autonomia a que ele se refere algo que ninguém pode tirar. Segundo ele hoje, é normal em seu trabalho haver esses constrangimentos, sabia que ao entrar nessa profissão iria passar por isso.
Um dos momentos marcantes em sua vida pessoal foi quando saiu de casa aos 18 anos, para estudar jornalismo e morar sozinho, com a vontade de dominar o mundo intelectual. O segundo momento foi seu casamento. Conheceu Claudia no ultimo ano da graduação, ela também engajada nos movimentos estudantis, e logo depois de três meses de namoro já estavam casados. Ela também se tornou professora e isso facilitou muito, “Além de ser uma companheira muito legal, liberal, nunca foi ciumenta, e pensamos muito parecidos”. E outro momento importante muito especial em sua vida pessoal, foi a chegada da Anita, sua filha. “Anita é um brilho, o sorriso dela ilumina o mundo todo, ela é uma graça, apaixonante. Ser pai é muito bacana, e eu pude ser pai adotivo por ser pai de verdade. Fui pai e mãe, eu dei mamadeira, troquei fralda, dei banho, fazia comida”, diz ser um pai coruja.
Aos finais de semana e horas livres gosta de ver filmes, ler quadrinhos, gosta de sair pra beber, conversar, e gosta muito desse universo de leitura. Um dos filmes que marcaram sua vida foi Clube da Luta, onde constrói o modelo de consumo. O filme oito e meio do Frederico Feline, e também o Diário de motocicleta, que fala sobre a juventude de Guevara. Os livros que marcaram sua vida foram de Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás cubas. Leu quando era menino e pirou com o livro, bem realista por sinal. Outro livro marcante foi o conto A Metamorfose do Káfica. E o terceiro livro O Estrangeiro, de Albert Camus, que mostra a ideia de alguém que está fora da sociedade estando dentro dela ao mesmo tempo, se chocando com os comportamentos que tem que tomar em algumas situações.


Uma das viagens mais legais que já fez foi sozinho, em 2010, pra Porto Alegre, no Fórum Social. O melhor de tudo foi ter conhecido várias pessoas. Outra viagem legal foi à Florianópolis, onde estavam Cláudia e Anita, “A sensação incrível de mostrar a praia pela primeira vez a uma criança, foi emocionante”. E sua vontade de conhecer outros lugares é imensa.
Rafael cita que têm mais vocação para o trabalho intelectual do que manual. É péssimo em trabalho manual, mas tenta quebrar um pouco esse dualismo de prática e teoria. Sempre teve esse envolvimento com a política e prática. E quanto a seu perfil como pessoa, ele diz: “eu acho que eu sou uma pessoa extrovertida, nunca fui pra baixo, nunca fui triste, acho que eu tenho um perfil meio pra cima assim, né!”.
Seus planos profissionais para o futuro é de continuar seguindo carreira acadêmica, como professor universitário, “Eu não tenho duvida nenhuma que eu estou no ramo certo, é o que eu mais me identifico, eu gosto de dar aula, gosto de estar em sala, conversar com os alunos”. Não tem pretensão de ficar em Parintins até se aposentar, quer ir para outra região em algum momento, vontade de estar em outros espaços, outras universidades. Estar perto da família é uma de suas grandes vontades a ser conquistada para o futuro, até porque Parintins é distante, e nem sempre é possível estar próximo dos parentes.
Atualmente compõe a chapa da (ADUA), movimento sindical onde milita como 3° vice-presidente, tem uma perspectiva de luta docente no movimento. Já foi muito próximo ao movimento MST, onde lecionou um curso de radio popular, trabalhou muito em acampamentos.
Como sociólogo também tem sua visão em relação ao desenvolvimento do Brasil. Destaca que o Brasil não é o país das realizações, e sim das contradições, que tende a piorar a cada dia, e está em direção ao caos social, onde as pessoas estão se tornando cada vez mais aprisionadas ao consumismo. As crianças e jovens não leem mais livros, ou assistem bons filmes, estamos indo a todo vapor em direção à desordem. O sofrimento das pessoas é cada vez mais visível, elas estão mais estressadas e deprimidas, “A realização hoje nesse país é isso, consumir é a verdadeira riqueza, gente está abandonando a riqueza artística, cultural, intelectual, as pessoas estão cada vez mais indóceis, cada vez mais idiotas, vendo programas cada vez mais toscos. Há um esvaziamento, um vazio intelectual, uma pobreza ideológica, uma miséria cultural muito intensa, tudo que se faz só se faz como mercadoria”. Porém, é otimista e acredita que podemos mudar o rumo das coisas, mas acha que o Brasil está muito longe de ser um país das realizações.

Um comentário:

  1. Como podemos mudar isso professor Bellan? De que tipo de programas o senhor esta falando?

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