De acordo com o que se
ouve falar a respeito dos arigós, pessoas nordestinas que migraram para
Parintins em busca de melhorias de vida, pôde-se notar que muitos dos aspectos
abordados em comentários a respeito deste grupo social são verdadeiros.
Édrika Gonçalves de
Vasconcelos é nascida e criada na cidade de Parintins, tem 24 anos e é filha de
Iran Vasconcelos, natural de Sobral/CE e Sirley Gonçalves, também nascida em
Parintins/AM. A jovem conta que seu pai é um arigó da gema e carrega consigo
muitas características nordestinas.
Um dos principais
costumes de seu pai é o tom de voz e o sotaque um tanto agressivo. “O papai
fala muito alto. Ele tá conversando com você tranquilamente, mas por causa do
tom e do modo de falar dele, tem gente que acha que tá tendo uma guerra mundial,
não tem como saber se ele tá bravo ou não, pois o tom de voz é sempre o mesmo”,
destaca a jovem Édrika.
Com isso, a jovem
relata que esse costume do tom de voz alto e da maneira agressiva na fala,
acabou passando para ela e para suas irmãs, pois elas falam do mesmo modo que o
pai.
O arigó também é
conhecido como uma pessoa cuidadosa, controladora e vigilante. Um dos principais fatores que mostram essas
características é quando um filho de arigó inicia um relacionamento amoroso.
Quando perguntada se o senhor Iran se encaixa nesse contexto, Édrika confirma:
“Demais. Quando comecei a namorar a maior dificuldade foi contar para o papai,
tive que contar com a ajuda da minha mãe para ir ajeitando a situação para
podermos contar para papai”.
Contudo, Édrika diz que
tem uma filha de três anos e que não será assim com ela, pois não concorda com
este tipo de comportamento. Ela relata que “Cada criação é uma criação. Não é
por que meu pai me criou assim, que vou criar minha filha Aninha assim, até por
que este tipo de atitude não é legal para mim. Ele me fez muitas vergonhas quando
eu estava com meu namorado”, admite, quando fala que namorava em frente de casa,
com sua mãe vigiando e até 22h, no máximo.
Quanto à culinária
nordestina, a jovem conta que em sua casa todos comem bastante a comida típica
do nordeste e que apesar de seus pais estarem separados e ela conviver hoje mais
com a mãe, ainda assim não deixam esse costume adquirido quando seus pais eram
casados. “Meu pai adora e nós acabamos adquirindo este costume também. Comemos
feijão todos os dias e quando a vovó manda de Sobral a rapadura e uns docinhos
de lá, ele divide a encomenda, fica com um pouco e deixa em casa uma porção pra
nós também”.
Apesar do pai nunca ter
sido muito religioso, Édrika conta que ele é bastante exigente. Ele mandava as
filhas irem à igreja, controlava os horários e as companhias que elas iam e sempre
foi bem restrito e antiquado.
Uma das principais características
dos arigós e mais comentadas no meio social é que este grupo é muito
trabalhador, esforçado e organizado. Édrika confirma este estereótipo dizendo
que: “Papai sempre foi muito trabalhador. Ele trabalhava de domingo a domingo,
sem feriado ou férias. Durante o dia ele trabalhava como vendedor ambulante na
feira e a noite ele trabalhava como vigia”, destaca.
A jovem diz que este é
um dos costumes de seu pai que mais a marcou e fala que faz questão de também adquirir este hábito. Conta que desde adolescente ela ajudava o pai: “Nós vendíamos verduras
na feira e eu tomava conta da banca pela manhã, pois como ele trabalhava a
noite como vigia eu queria ajuda-lo, por que a tarde eu estudava”, diz.
Édrika finaliza dizendo
que sente muito orgulho de sua criação, e que apesar de não concordar com
alguns costumes da cultura nordestina, procura abordar e continuar tendo
atitudes como as de seu pai, porém agirá apenas de acordo com as atitudes que achar
adequada e coerente. “Sinto orgulho de o meu pai ser arigó. Ele sempre será
conhecido como um homem trabalhador e batalhador”, finaliza a jovem.
Parintinense
de sangue nordestino
Cristina de Sousa
Andrade é filha de Raimundo Falcão Andrade e Neuza de Souza Serrado. Ela conta
que seus pais são de origem nordestina pura. Seu Raimundo é natural de Sobral e
a mãe é do Maranhão. Cristina nasceu em Parintins, tem 29 anos e se considera
uma parintinense verdadeira, mas que respeita muito as origens e costumes que
ainda prevalece no cotidiano da família.
Em relação aos costumes
ela conta que foge um pouco de sua rotina, pois já esta adaptada à cultura
parintinense e que se sente a vontade no ambiente em que está situada. Segundo a
jovem, as características nordestinas de seus pais ainda são muito fortes. “Minha
mãe é uma pessoa do tipo muito espoletada, o tom de voz é forte, a maneira como
ela se comunica é tipicamente nordestina. É também uma mãe muita carismática, às
vezes um pouco rígida”, conta.
Uma das características
comuns dos nordestinos é a rigidez com relação aos comportamentos dos filhos. “Na
época de minha adolescência, minha mãe principalmente, me prendia muito em casa.
Minhas atividades de aula eu fazia sozinha, às vezes meus colegas tinham que se
deslocar até minha residência, pois eu não podia sair porque na época minha
liberdade era muito rara”.
Muitos nordestinos
migraram para a Amazônia com objetivo de melhores condições de vida. Durante esse
caminho muitos conseguiram se desenvolver, principalmente no ramo do comércio. Alguns
não conseguiram muito sucesso, mas exercem outras atividades. Questionada sobre
a situação da família, Cristina revela que o pai antes de chegar a Parintins,
viveu dois anos em Santarém/PA e que durante esse período trabalhou como
transportador de mercadorias num caminhão que comprou na época em que chegou àquela
cidade.
Tempos depois, a
convite de um amigo, migrou para Parintins e com o pouco de dinheiro que tinha
comprou um terreno no bairro Itaguatinga, onde vivem ate hoje. Seu Raimundo
conta que: “na época até que tentei levar a vida de comerciante, mas não tive
muito sucesso”. Atualmente presta serviço com seu caminhão para a empresa
Cerâmica Moderna de Parintins (Cemopar).
Apesar da rigidez dos
pais, Cristina se sente orgulhosa de ser a filha única do casal. Segundo a moça,
no tempo que ficava em casa o dever era estudar e nada mais. “Atualmente sou
formada em Licenciatura em Letras pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA)
e professora na escola Estadual Brandão de Amorim. Hoje tenho uma filha de três
anos e já me sinto uma mulher realizada”, ressalta.
Cristina conclui
dizendo: “minha família não é rica, apenas trabalha e isso sempre prevaleceu,
pois meu pai é um exemplo de um homem batalhador e eu me espelhei nele. Tenho
muito orgulho de fazer parte de uma família nordestina e ser descendente desse
grupo. Enfim, sou feliz. Mas repito em dizer: considero-me uma parintinense e
amo essa cidade”!
As gerações de avó para
pai e filho
Isaias Alves de Freitas
de 50 anos é microempresário, nordestino e fugiu da seca e das dificuldades do
sertão. “Quando eu vim para Parintins sem conhecer, estava com problemas
financeiros, através de um amigo que trabalha do ramo de venda, ele me
proporcionou a minha vinda para Parintins, passei a gostar e morar aqui, é aqui que tive e tirei o
sustento dos meus dois filhos”, relata.
Em Parintins nasceram e
foram criados os dois filhos, porém mantendo a tradição nordestina. “Parintins
me proporcionou criar meus filhos, hoje trabalho na igreja Assembleia de Deus
missionária, sou pastor há dez anos comerciado pela conversão, tenho outros
trabalhos fora daqui como, terra santa e, além disso, tenho pessoas que
trabalham pra mim.” Diz ainda que a cultura do nordestino é muito diferente,
mas que com peixe e a farinha do amazonas ele sobrevive e que sempre quando tem
a oportunidade de visitar sua terra de origem, vai.
“Criei meus dois filhos
assim me espelhando como meus pais me criaram, só que as coisas mudam e
favorecem o pai de família, então o costume de criação que meus pais me deram,
procurei passar para meus filhos que nasceram em Parintins, pois, aqui é bem
diferente, mas posso dizer que por mais que meus filhos não terem nascido no
nordeste, eles sempre vão ter traços porque ser nordestino está no sangue, eles
têm um conhecimento muito bom do nosso povo” afirma Isaias.
Um dos filhos de
Isaias, Adriano Alves de Freitas de 23 anos, atualmente cursa Serviço Social na
Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “Considero-me parintinense. Nascer em
Parintins têm seus privilégios, tive oportunidade de estudar, mas estranhei um
pouco a educação dos meus pais, que tiveram que se adequar a cultura
parintinense. Meus pais tiveram uma forma diferente, sempre essa preocupação de
educar nos filhos a mesma educação que lhes foi dada. Posso dizer que Parintins
cooperou muito pra mim”, afirma o rapaz.
Apesar de toda educação
aos moldes nordestinos o jovem parintinense tem sua raiz aqui, mas não descarta
a influência nordestina. “Gosto de Parintins. Pretendo trabalhar aqui, ter uma
família, tenho orgulho de ser nordestino, não sofro qualquer tipo de
preconceito. Tenho minhas raízes nordestinas, mas nascer em Parintins e motivo
de orgulho, porque foi aqui que eu conquistei muitas coisas, hoje tenho muitos
amigos. Participo da igreja no ministério de louvor, onde meu pai é pastor há
10 anos, minha Irmã que também nasceu aqui hoje é formada pela UEA em Biologia”,
confirma Adriano.
A criação que Adriano
teve continuará a ser passada, assim como a influência e a cultura nordestina também
continuarão na descendência da família Freitas. “Tento deixar vivas nossas
raízes, meu pai me ensinou a manter fortes nossos costumes, não tive
oportunidade de conhecer a terra que meus pais eram, espero um dia poder
conhecer. Mostrar para minha filha onde os avós dela moravam, falar da historia
dos meus pais pra ela vai ser encantador”, finaliza Adriano.
Em busca de alternativas
Antônio Batista e a
esposa Maria de Fatima Xavier vieram de Maçapé/CE,
uma cidade de interior próxima à Sobral. Segundo o que relata Antônio Batista,
para eles decidirem vir para Parintins, foi por Sobral estar numa época de
escassez, muito seca e sem chuvas. Com isso apareciam as dificuldades para
sobreviver e a inexistência de mão de obra aumentava.
Maria Deusimar, uma das
filhas de Antônio e Maria, saiu de Sobral aos nove meses juntamente com os pais
para Parintins. Com relação às características dos arigós ela sempre
questionou, mas sempre procurou obedecer às ordens de seus pais: “eu sigo, mas
às vezes eu tinha vontade de ir pra algum local e minha mãe não deixava. Eu
sempre tinha que ir acompanhada de algum conhecido, mas eu sempre obedecia”,
conta a jovem.
Diz também que se
chegar a ter uma filha, ela não vai criar exatamente como sua mãe a criou, pois
ela não irá prender seus filhos: “eu e minhas irmãs, sempre achávamos ruim um
pouco, agente tinha vontade de sair e se um dia eu chegar a ter uma filha,
assim como minha irmã também fala, não vai ser como a nosso mãe nos criou, mas
vai ter um pouco do que a ela nos ensinou”, diz Deusimar. A moça relata também
que com relação ao preconceito que alguns dos arigós sofrem, ela jamais teve
preocupação com isso, seus amigos sempre respeitaram a sua origem.
Na
contramão das raízes
Diego Araújo
Vasconcelos, descendente de nordestinos, conta que seus pais ainda preservam
alguns costumes como comer rapadura com feijão na hora do almoço, o que para
ele se torna um “sacrifício”.
Uma das características
dos arigós é o sotaque nordestino, o que notório em Diego que mistura também a
fala alta e o comum chiado parintinense.
Um dos sonhos do jovem arigó é conhecer a terra de seus pais. Ele fala que Parintins proporcionou para seus pais uma condição de vida melhor do que enfrentava em Sobral, “Parintins pra ele abriu muitas portas, não só para ele, mas para toda família e frisa que se não estivesse morando em Parintins estaria na miséria”, garante Diego.
O
arigó parintinense
São muitos perfis e
vários parintinenses filhos de nordestinos. Cada um deles traz consigo algumas
características dos pais. Alguns mostram a vontade de criar os filhos, netos de
arigós, com o modelo nordestino de ser. Alguns respeitam a criação, mas
demonstram certa discordância de como foram criados.
O arigó parintinense é
genuinamente nordestino, mas tem orgulho da cidade que nasceu. É difícil
identifica-lo como alguém do Nordeste ou do Norte, possível seja mais fácil
caracteriza-lo como a mistura de um povo que historicamente já é muito
parecido.
Grupo 2
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