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terça-feira, 9 de abril de 2013

Parintinenses de herança nordestina



De acordo com o que se ouve falar a respeito dos arigós, pessoas nordestinas que migraram para Parintins em busca de melhorias de vida, pôde-se notar que muitos dos aspectos abordados em comentários a respeito deste grupo social são verdadeiros.
Édrika Gonçalves de Vasconcelos é nascida e criada na cidade de Parintins, tem 24 anos e é filha de Iran Vasconcelos, natural de Sobral/CE e Sirley Gonçalves, também nascida em Parintins/AM. A jovem conta que seu pai é um arigó da gema e carrega consigo muitas características nordestinas.
Um dos principais costumes de seu pai é o tom de voz e o sotaque um tanto agressivo. “O papai fala muito alto. Ele tá conversando com você tranquilamente, mas por causa do tom e do modo de falar dele, tem gente que acha que tá tendo uma guerra mundial, não tem como saber se ele tá bravo ou não, pois o tom de voz é sempre o mesmo”, destaca a jovem Édrika.
Com isso, a jovem relata que esse costume do tom de voz alto e da maneira agressiva na fala, acabou passando para ela e para suas irmãs, pois elas falam do mesmo modo que o pai.



O arigó também é conhecido como uma pessoa cuidadosa, controladora e vigilante.  Um dos principais fatores que mostram essas características é quando um filho de arigó inicia um relacionamento amoroso. Quando perguntada se o senhor Iran se encaixa nesse contexto, Édrika confirma: “Demais. Quando comecei a namorar a maior dificuldade foi contar para o papai, tive que contar com a ajuda da minha mãe para ir ajeitando a situação para podermos contar para papai”.
Contudo, Édrika diz que tem uma filha de três anos e que não será assim com ela, pois não concorda com este tipo de comportamento. Ela relata que “Cada criação é uma criação. Não é por que meu pai me criou assim, que vou criar minha filha Aninha assim, até por que este tipo de atitude não é legal para mim. Ele me fez muitas vergonhas quando eu estava com meu namorado”, admite, quando fala que namorava em frente de casa, com sua mãe vigiando e até 22h, no máximo.
Quanto à culinária nordestina, a jovem conta que em sua casa todos comem bastante a comida típica do nordeste e que apesar de seus pais estarem separados e ela conviver hoje mais com a mãe, ainda assim não deixam esse costume adquirido quando seus pais eram casados. “Meu pai adora e nós acabamos adquirindo este costume também. Comemos feijão todos os dias e quando a vovó manda de Sobral a rapadura e uns docinhos de lá, ele divide a encomenda, fica com um pouco e deixa em casa uma porção pra nós também”.
Apesar do pai nunca ter sido muito religioso, Édrika conta que ele é bastante exigente. Ele mandava as filhas irem à igreja, controlava os horários e as companhias que elas iam e sempre foi bem restrito e antiquado.
Uma das principais características dos arigós e mais comentadas no meio social é que este grupo é muito trabalhador, esforçado e organizado. Édrika confirma este estereótipo dizendo que: “Papai sempre foi muito trabalhador. Ele trabalhava de domingo a domingo, sem feriado ou férias. Durante o dia ele trabalhava como vendedor ambulante na feira e a noite ele trabalhava como vigia”, destaca.
A jovem diz que este é um dos costumes de seu pai que mais a marcou e fala que faz questão de também adquirir este hábito. Conta que desde adolescente ela ajudava o pai: “Nós vendíamos verduras na feira e eu tomava conta da banca pela manhã, pois como ele trabalhava a noite como vigia eu queria ajuda-lo, por que a tarde eu estudava”, diz.
Édrika finaliza dizendo que sente muito orgulho de sua criação, e que apesar de não concordar com alguns costumes da cultura nordestina, procura abordar e continuar tendo atitudes como as de seu pai, porém agirá apenas de acordo com as atitudes que achar adequada e coerente. “Sinto orgulho de o meu pai ser arigó. Ele sempre será conhecido como um homem trabalhador e batalhador”, finaliza a jovem.

Parintinense de sangue nordestino
Cristina de Sousa Andrade é filha de Raimundo Falcão Andrade e Neuza de Souza Serrado. Ela conta que seus pais são de origem nordestina pura. Seu Raimundo é natural de Sobral e a mãe é do Maranhão. Cristina nasceu em Parintins, tem 29 anos e se considera uma parintinense verdadeira, mas que respeita muito as origens e costumes que ainda prevalece no cotidiano da família.
Em relação aos costumes ela conta que foge um pouco de sua rotina, pois já esta adaptada à cultura parintinense e que se sente a vontade no ambiente em que está situada. Segundo a jovem, as características nordestinas de seus pais ainda são muito fortes. “Minha mãe é uma pessoa do tipo muito espoletada, o tom de voz é forte, a maneira como ela se comunica é tipicamente nordestina. É também uma mãe muita carismática, às vezes um pouco rígida”, conta.
Uma das características comuns dos nordestinos é a rigidez com relação aos comportamentos dos filhos. “Na época de minha adolescência, minha mãe principalmente, me prendia muito em casa. Minhas atividades de aula eu fazia sozinha, às vezes meus colegas tinham que se deslocar até minha residência, pois eu não podia sair porque na época minha liberdade era muito rara”.
Muitos nordestinos migraram para a Amazônia com objetivo de melhores condições de vida. Durante esse caminho muitos conseguiram se desenvolver, principalmente no ramo do comércio. Alguns não conseguiram muito sucesso, mas exercem outras atividades. Questionada sobre a situação da família, Cristina revela que o pai antes de chegar a Parintins, viveu dois anos em Santarém/PA e que durante esse período trabalhou como transportador de mercadorias num caminhão que comprou na época em que chegou àquela cidade.
Tempos depois, a convite de um amigo, migrou para Parintins e com o pouco de dinheiro que tinha comprou um terreno no bairro Itaguatinga, onde vivem ate hoje. Seu Raimundo conta que: “na época até que tentei levar a vida de comerciante, mas não tive muito sucesso”. Atualmente presta serviço com seu caminhão para a empresa Cerâmica Moderna de Parintins (Cemopar).
Apesar da rigidez dos pais, Cristina se sente orgulhosa de ser a filha única do casal. Segundo a moça, no tempo que ficava em casa o dever era estudar e nada mais. “Atualmente sou formada em Licenciatura em Letras pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e professora na escola Estadual Brandão de Amorim. Hoje tenho uma filha de três anos e já me sinto uma mulher realizada”, ressalta.
Cristina conclui dizendo: “minha família não é rica, apenas trabalha e isso sempre prevaleceu, pois meu pai é um exemplo de um homem batalhador e eu me espelhei nele. Tenho muito orgulho de fazer parte de uma família nordestina e ser descendente desse grupo. Enfim, sou feliz. Mas repito em dizer: considero-me uma parintinense e amo essa cidade”!

As gerações de avó para pai e filho
Isaias Alves de Freitas de 50 anos é microempresário, nordestino e fugiu da seca e das dificuldades do sertão. “Quando eu vim para Parintins sem conhecer, estava com problemas financeiros, através de um amigo que trabalha do ramo de venda, ele me proporcionou a minha vinda para Parintins, passei a gostar e morar aqui, é aqui que tive e tirei o sustento dos meus dois filhos”, relata.
Em Parintins nasceram e foram criados os dois filhos, porém mantendo a tradição nordestina. “Parintins me proporcionou criar meus filhos, hoje trabalho na igreja Assembleia de Deus missionária, sou pastor há dez anos comerciado pela conversão, tenho outros trabalhos fora daqui como, terra santa e, além disso, tenho pessoas que trabalham pra mim.” Diz ainda que a cultura do nordestino é muito diferente, mas que com peixe e a farinha do amazonas ele sobrevive e que sempre quando tem a oportunidade de visitar sua terra de origem, vai.
“Criei meus dois filhos assim me espelhando como meus pais me criaram, só que as coisas mudam e favorecem o pai de família, então o costume de criação que meus pais me deram, procurei passar para meus filhos que nasceram em Parintins, pois, aqui é bem diferente, mas posso dizer que por mais que meus filhos não terem nascido no nordeste, eles sempre vão ter traços porque ser nordestino está no sangue, eles têm um conhecimento muito bom do nosso povo” afirma Isaias.
Um dos filhos de Isaias, Adriano Alves de Freitas de 23 anos, atualmente cursa Serviço Social na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “Considero-me parintinense. Nascer em Parintins têm seus privilégios, tive oportunidade de estudar, mas estranhei um pouco a educação dos meus pais, que tiveram que se adequar a cultura parintinense. Meus pais tiveram uma forma diferente, sempre essa preocupação de educar nos filhos a mesma educação que lhes foi dada. Posso dizer que Parintins cooperou muito pra mim”, afirma o rapaz.
Apesar de toda educação aos moldes nordestinos o jovem parintinense tem sua raiz aqui, mas não descarta a influência nordestina. “Gosto de Parintins. Pretendo trabalhar aqui, ter uma família, tenho orgulho de ser nordestino, não sofro qualquer tipo de preconceito. Tenho minhas raízes nordestinas, mas nascer em Parintins e motivo de orgulho, porque foi aqui que eu conquistei muitas coisas, hoje tenho muitos amigos. Participo da igreja no ministério de louvor, onde meu pai é pastor há 10 anos, minha Irmã que também nasceu aqui hoje é formada pela UEA em Biologia”, confirma Adriano.
A criação que Adriano teve continuará a ser passada, assim como a  influência e a cultura nordestina também continuarão na descendência da família Freitas. “Tento deixar vivas nossas raízes, meu pai me ensinou a manter fortes nossos costumes, não tive oportunidade de conhecer a terra que meus pais eram, espero um dia poder conhecer. Mostrar para minha filha onde os avós dela moravam, falar da historia dos meus pais pra ela vai ser encantador”, finaliza Adriano.

Em busca de alternativas
Antônio Batista e a esposa Maria de Fatima Xavier vieram de Maçapé/CE, uma cidade de interior próxima à Sobral. Segundo o que relata Antônio Batista, para eles decidirem vir para Parintins, foi por Sobral estar numa época de escassez, muito seca e sem chuvas. Com isso apareciam as dificuldades para sobreviver e a inexistência de mão de obra aumentava.
Maria Deusimar, uma das filhas de Antônio e Maria, saiu de Sobral aos nove meses juntamente com os pais para Parintins. Com relação às características dos arigós ela sempre questionou, mas sempre procurou obedecer às ordens de seus pais: “eu sigo, mas às vezes eu tinha vontade de ir pra algum local e minha mãe não deixava. Eu sempre tinha que ir acompanhada de algum conhecido, mas eu sempre obedecia”, conta a jovem.
Diz também que se chegar a ter uma filha, ela não vai criar exatamente como sua mãe a criou, pois ela não irá prender seus filhos: “eu e minhas irmãs, sempre achávamos ruim um pouco, agente tinha vontade de sair e se um dia eu chegar a ter uma filha, assim como minha irmã também fala, não vai ser como a nosso mãe nos criou, mas vai ter um pouco do que a ela nos ensinou”, diz Deusimar. A moça relata também que com relação ao preconceito que alguns dos arigós sofrem, ela jamais teve preocupação com isso, seus amigos sempre respeitaram a sua origem.

Na contramão das raízes
Diego Araújo Vasconcelos, descendente de nordestinos, conta que seus pais ainda preservam alguns costumes como comer rapadura com feijão na hora do almoço, o que para ele se torna um “sacrifício”.
Uma das características dos arigós é o sotaque nordestino, o que notório em Diego que mistura também a fala alta e o comum chiado parintinense.



 

Um dos sonhos do jovem arigó é conhecer a terra de seus pais. Ele fala que Parintins proporcionou para seus pais uma condição de vida melhor do que enfrentava em Sobral, “Parintins pra ele abriu muitas portas, não só para ele, mas para toda família e frisa que se não estivesse morando em Parintins estaria na miséria”, garante Diego.
O arigó parintinense
São muitos perfis e vários parintinenses filhos de nordestinos. Cada um deles traz consigo algumas características dos pais. Alguns mostram a vontade de criar os filhos, netos de arigós, com o modelo nordestino de ser. Alguns respeitam a criação, mas demonstram certa discordância de como foram criados.
O arigó parintinense é genuinamente nordestino, mas tem orgulho da cidade que nasceu. É difícil identifica-lo como alguém do Nordeste ou do Norte, possível seja mais fácil caracteriza-lo como a mistura de um povo que historicamente já é muito parecido.

Grupo 2

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