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terça-feira, 9 de abril de 2013

OS IMIGRANTES CEARENSES ‘‘DESCONHECIDOS’’ EM PARINTINS


UM BREVE RELATO DA TRAJETÓRIA DOS CEARENSES


No Nordeste, 10 milhões de brasileiros passam fome, ligado diretamente a este número evidente, está à seca. Em 2012 uma das mais severas secas dos últimos anos agravou este quadro, o governo federal criou uma série de projetos sociais para auxiliar as famílias que sofrem com a seca. O número de cearenses em situação de pobreza extrema aumentou de 9,3% para 10,9% entre 2008 e 2009, são cerca de 850 mil pessoas vivendo com uma renda diária menor que R$ 2,03, segundo a pesquisa realizada e divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do estado do Ceará.

A partir dessas problemáticas, os nordestinos migram para outras partes do Brasil. A região mais habitada para a migração nordestina é o centro- sul do país. Essas famílias saem de suas cidades, em busca por uma vida financeira melhor.

            No Brasil esse tipo de migração é muito conhecido e comum entre os nordestinos. Os fatores mais causadores são as dificuldades econômicas acompanhadas das constantes secas e a prosperidade financeira de outras regiões.

A partir da superlotação nessa região do centro-sul o processo migratório diminuiu, dando origem também a ocupações territoriais no Distrito Federal e na Amazônia.

A migração amazônica começou em 1890 até 1910 com o apoio do Governo Federal, tinha o objetivo de trazer trabalhadores para os seringais. Os trabalhadores nordestinos, que vieram na Amazônia em busca de emprego, caíram logo na dependência econômica dos Seringalistas e se tornaram os "seringueiros nordestinos”. Atualmente, os Nordestinos que vivem na Amazônia têm outros meios de ganhar a vida. Entre outros trabalhos o principal era ser comerciante.

Em Parintins os nordestinos (também conhecidos como arigós) têm sua maior renda e conquistas no ramo do comércio. Há uma quantidade de migrantes significativa na cidade. Alguns são conhecidos, por terem um dos principais comércios no município.

Mais nem todos que saíram de sua cidade em busca de uma vida melhor tiveram essa mesma sorte. Trabalham em outro ramo, alguns são feirantes, carroceiros, outros continuam com vendas independentes de utensílios variados pelas ruas, conhecidos como prestamistas. Além disso, não são tão conhecidos na cidade e “parecem” ter uma história bem menos interessante. Por isso deve-se mostrar totalmente o contrário, eles passaram pela mesma dificuldade e ainda buscam o sucesso de estabilidade financeira em Parintins.

           
         Em busca de um futuro melhor em Parintins

As dificuldades enfrentadas pelos cearenses, principalmente a seca e a fome, devido o problema em tirar o sustento do solo infértil, além da falta de oportunidade de emprego, a estagnação da falta de água e econômica, são os principais motivos para que muitos deles deixem seus municípios em busca de uma oportunidade de vida melhor em outro estado. O caso do seu Ecilio Nogueira de Freitas, 64, que saiu com sua família a mais de 40 anos de Serra do Felix no município de Beberibe no estado do Ceará.                                                                             
                                                                                (Pracinha da Capela da Serra do Felix, Beberibe, Ceará)


As dificuldades enfrentadas por sua família naquela cidade eram muitas, “a falta de água principalmente. Meu finado pai levantava todos os dias pela madrugada para buscar um pote de água. Carregava sobre o ombro, e com aquela água, agente tomava banho, fazia comida, então foi muito difícil, papai sofria muito”, relata.

E foram esses problemas que motivaram o seu pai, a recolher alguns de seus pertences para ingressar em uma viajem por uma vida melhor nos Seringais Acreanos. “Nosso plano era passar dois anos no alto seringal do Acre, mais chegamos em Manaus, e um soldado aconselhou meu pai a não ir, por causa dos rumores de doenças graves da floresta. Então nós fomos para Maués trabalhar em uma usina de pau rosa. Ficamos trabalhando quatro anos, depois nós fomos para uma fazenda no Paraná do Ramos e depois viemos para Parintins. Nos éramos 12 filhos,  dois já faleceram”, descreveu Ecilio.

A disposição do pai para arrumar trabalho logo o fez arrumar um serviço na fazenda São Sebastião na Região de Várzea do interior de Parintins, e após nove anos, com o dinheiro adquirido com a venda de um gado finalmente se estabeleceram na cidade. Ecilio conseguiu um emprego na prefeitura como vigilante, onde atuou por quatro anos, até que a eleição de Carlinhos da Carbrás para prefeito pôs fim a guarda municipal, obrigando Ecilio a conseguir uma nova fonte de renda.

Em Parintins, os Cearenses são conhecidos pelo espírito empreendedor para o comércio, e Ecilio chegou a montar uma pequena mercearia. Mas os negócios não foram como ele esperava. “Eu montei um pequeno negócio, mas  não deu certo e eu me desgostei dessa área”, revelou ele, que  em 1985 começou a atuar como carroceiro.

Hoje Ecilio continua trabalhando como carroceiro, e também possui um cargo comissionado pela Prefeitura de Parintins na Coordenadoria de Esportes do Município, e promove os jogos do campo dos carroceiros no bairro Paulo Corrêa. Pai de sete filhos é casado com uma parintinense há 33 anos e revela que não tem vontade de viver em outro lugar. “Eu não vivo do jeito que eu sonhei viver, mas não posso reclamar. Aqui em Parintins consegui minha casa, tenho meu trabalho, minha esposa, meus filhos e netos. Não nos falta saúde, e o mais importante é que ainda tenho força e disposição para trabalhar”, concluiu ele, revelando que tem vontade de visitar sua terra natal, mas que não tem vontade de morar em outro lugar senão em Parintins.

         A vida que pedi a Deus

Querendo se refugiar dos assaltos freqüentes que recebia, Agemiro aceitou um convite feito por seu amigo para viajar a Santarém. Chegando sem seu destino após uma longa viagem, teve o amparo e auxilio de outros amigos, moradores daquela cidade.

Natural da Coeraú, interior de Fortaleza, o senhor batalhador nunca recusou trabalho desde sua infância. Como tal, era comerciante na cidade de onde veio.                                                                                                  (Agemiro em seu Box de farinha e outros produtos)

Ao chegar em Santarém um amigo lhe deu redes para vender com a proposta de quando as vendesse iria repor o valor. Se apegando a oportunidade, Agemiro já tinha como começar a vida ali. “O sol nem aparecia ainda e eu já estava de pé, colocava as redes na costa, e saía com muita esperança” relata.

A vida que teve em Terra Santa, outro destino traçado por ele, foi rodeada por algumas experiências inesperadas. Quando não tinha onde dormir, a praça da pequena cidade era sua única opção. Esteve também em Juruti onde conseguiu uma casa abandonada para morar, submetendo-se à certos incômodos, pois a casa mal tinha paredes.

Foi em Parintins que conheceu sua atual mulher, Maria do Socorro. Agemiro se estabilizou foi então que seus quatro filhos vieram para morar com o pai. Filhos da união com a ex-mulher. Conseguiram se manter por um tempo, seus filhos continuaram os estudos.

Parintins foi o próximo destino da família. Dessa vez as oportunidades chegaram com mais vigor. Sua primeira ocupação foi com vendas de produtos regionais (trabalho que exerce até hoje), com isso conseguiu alugar uma casa. Ainda assim, existiam as dificuldades mais frequentes na família uma delas, era a lavagem da roupa feita na beira do rio amazonas método usado durante um bom tempo.

Com o passar dos anos os problemas foram sendo administrados pela família, fazendo com o que hoje vivessem de forma equilibrada. Seu Agemiro têm todos os seus filhos formados no segundo grau, o que o deixa com muito orgulho, sempre destaca em sua fala esse sentimento. “Meus bebezao, já estão tudo formado. Graças a Deus e me sinto feliz por ter cooperado para isso”. Um dos filhos, Agemiro Filho já está quase concluindo o ensino superior na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo curso de Engenharia Física.

Para essa grande realização, de ver seus filhos se dedicando aos estudos o Pai dedicado trabalhou duro para que isso ocorresse. Por isso por trabalhar com muita exposição ao sol, Agemiro conta que já precisou viajar para Fortaleza tratamento dermatológico. Daí a decisão de nunca mais ter tanta exposição aos raios solares, nem por trabalho como por outra coisa.

Quando indagado pela hipótese de voltar para morar em sua cidade natal Coeraú, ele conta que não gostaria de sair de Parintins, pois é nessa cidade que se senti feliz, foi nesse lugar que teve oportunidades que são realidades até hoje. Agemiro ama tanto Parintins que “Daqui só vou, para traz da Catedral” relatou. Esse trecho refere-se ao cemitério da cidade, ou seja, sairá apenas quando morrer.

Seu Agemiro visita seus familiares em Coearú de vez em quando, vai a Fortaleza sempre que pode, mas não sente vontade em voltar morar novamente em sua cidade natal, por conta dos assaltos que sofria.

Atualmente morando com Artemes um de seus filhos, Agemiro com 58 anos reside no Bairro da Francesa em Parintins onde também têm seu pequeno comércio de produtos regionais. O mercado municipal da Francesa (mas conhecido como Feira do Bagaço) proporciona ao imigrante a oportunidade da venda de seus produtos. A farinha juntamente com os materiais para serem a produzidos a farinha, como: tipiti, peneira, sacas, cestos, abanador de cipó, remo, são oferecidos em seu box.

Nessa função exercida por ele, não há tanto esforço físico, nem exposição ao sol. Conseguiu comprar sua casa, tem a família estruturada financeiramente e emocionalmente, alcançou e continua alcançando suas metas. Por fim, tem uma vida verdadeiramente pedida a Deus.  

          Encontrando o aconchego

Antigamente na cidade do Maranhão havia um fato peculiar, a partir dos doze anos de idade, era regra que todos os garotos da família trabalhassem. Era dever do rapaz com essa idade cooperar com as despesas do lar. Os métodos mais frequentes de trabalho eram na lavoura ou no garimpo, na plantação de soja, cebola, ou como atualmente na plantação de cana. Foi baseado nessa criação que o seu Francisval Pereira Nunes aprendeu a lidar com responsabilidade e esforço no seu trabalho.

Como a prioridade era o trabalho, os estudos ficavam de lado. Não havia um incentivo vindo de sua família para que estudassem, alegavam que com estudos os resultados não são imediatos, ou seja, “não se ganhava dinheiro na sala de aula.” E isso não foi diferente na vida de seu Francisval que hoje com 46 anos consegue apenas escrever seu próprio nome e nada mais.

            A decisão de vir morar em Parintins surgiu pela intenção de melhoria financeira. Aceitando um convite de um amigo, Francisval foi o único de sua família a apostar na nova ideia. “Vou passar apenas um tempo em Parintins, caso não dê certo eu volto”.

            Mesmo fixando em sua própria residência nessa cidade o jovem senhor faz um esforço para uma visita anual aos seus familiares do Maranhão. “Mesmo tendo muita saudade da minha terra, o custo de vida lá é muito alto. Tudo é pago, até mesmo a água que se bebe, além de não ter nenhuma oportunidade de crescimento”.

A função exercida por ele na Ilha de Parintins há 16 anos é com vendas de utensílios domésticos e variados produtos pela cidade e comunidades vizinhas como: Nhamundá, Caburi, Juruti, Mocambo.  Mesmo não tendo acesso à sala de aula, sempre soube administrar seus bens resultando na ampliação de seus negócios.

Ao contrário do que foi ensinado quando era criança sobre a desvalorização dos estudos, seu Francisval tenta agir diferente com seus filhos, tendo o apoio de sua esposa Rosimary. Infelizmente o filho mais velho Christian, ainda não quer cursar uma faculdade, pelo mesmo motivo defendido pelo pai em sua infância. O filho pensa somente em trabalhar. Pois para ele a faculdade demora muito e o trabalho não “As cobranças não tem dia, nem hora, nem domingo, nem doença” relata o pai sobre o filho.

Persistência

Em se tratando de trabalhar os personagens em questão “os Arigós”, faziam com que isso fosse para muitos deles de fato prioridade. As inúmeras tarefas exercidas por eles tinham o objetivo de manter-se como qualquer outro ser humano, o que os difere dos demais é a persistência vinda unicamente deles próprios unidos com a certeza da melhoria de vida.

Muitos são conhecidos em Parintins por seus grandes comércios, os imigrantes nordestinos conhecidos como “Arigós”, são pessoas batalhadoras que exercem seu papel, seja ele qual for, com toda a responsabilidade e dedicação que podem oferecer.

Existem os que conceituam esses nordestinos como fanáticos por trabalho. Mas deve-se lembrar que já que são todos de outra parte do país vindos a este estado, então suas histórias são parecidas como as que foram relatadas. Para chegarem a seu destino, precisaram passar por uma série de situações muito difíceis, resultando no esforço ofertado no trabalho para mostrar que todo o sacrifício passado valerá à pena.

 Grupo 4: Evailza Pantoja, Glenda Garcia, Luana Muniz, Naiara Guimarães, Silvia Pinto, Tatyane Pontes, Wully Cristina Cardoso e Werisom

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