UM BREVE RELATO DA TRAJETÓRIA DOS
CEARENSES
No
Nordeste, 10 milhões de brasileiros passam fome, ligado diretamente a este
número evidente, está à seca. Em 2012 uma das mais severas secas dos últimos
anos agravou este quadro, o governo federal criou uma série de projetos sociais
para auxiliar as famílias que sofrem com a seca. O número de
cearenses em situação de pobreza extrema aumentou de 9,3% para 10,9% entre 2008
e 2009, são cerca de 850 mil pessoas vivendo com uma renda diária menor que R$ 2,03,
segundo a pesquisa realizada e divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) do estado do Ceará.
A partir dessas
problemáticas, os nordestinos migram para outras partes do Brasil. A região
mais habitada para a migração nordestina é o centro- sul do país. Essas
famílias saem de suas cidades, em busca por uma vida financeira melhor.
No
Brasil esse tipo de migração é muito conhecido e comum entre os nordestinos. Os
fatores mais causadores são as dificuldades econômicas acompanhadas das
constantes secas e a prosperidade financeira de outras regiões.
A partir da
superlotação nessa região do centro-sul o processo migratório diminuiu, dando
origem também a ocupações territoriais no Distrito Federal e na Amazônia.
A migração amazônica
começou em 1890 até 1910 com o apoio do Governo Federal, tinha o objetivo de
trazer trabalhadores para os seringais. Os trabalhadores nordestinos, que
vieram na Amazônia em busca de emprego, caíram logo na dependência econômica
dos Seringalistas e se tornaram os "seringueiros nordestinos”. Atualmente,
os Nordestinos que vivem na Amazônia têm outros meios de ganhar a vida. Entre
outros trabalhos o principal era ser comerciante.
Em Parintins os
nordestinos (também conhecidos como arigós) têm sua maior renda e conquistas no
ramo do comércio. Há uma quantidade de migrantes significativa na cidade.
Alguns são conhecidos, por terem um dos principais comércios no município.
Mais nem todos que
saíram de sua cidade em busca de uma vida melhor tiveram essa mesma sorte. Trabalham
em outro ramo, alguns são feirantes, carroceiros, outros continuam com vendas independentes
de utensílios variados pelas ruas, conhecidos como prestamistas. Além disso,
não são tão conhecidos na cidade e “parecem” ter uma história bem menos interessante.
Por isso deve-se mostrar totalmente o contrário, eles passaram pela mesma
dificuldade e ainda buscam o sucesso de estabilidade financeira em Parintins.
Em busca de um futuro melhor em Parintins
As
dificuldades enfrentadas por sua família naquela cidade eram muitas, “a falta
de água principalmente. Meu finado pai levantava todos os dias pela madrugada
para buscar um pote de água. Carregava sobre o ombro, e com aquela água, agente
tomava banho, fazia comida, então foi muito difícil, papai sofria muito”,
relata.
E
foram esses problemas que motivaram o seu pai, a recolher alguns de seus
pertences para ingressar em uma viajem por uma vida melhor nos Seringais
Acreanos. “Nosso plano era passar dois anos no alto seringal do Acre, mais
chegamos em Manaus, e um soldado aconselhou meu pai a não ir, por causa dos
rumores de doenças graves da floresta. Então nós fomos para Maués trabalhar em
uma usina de pau rosa. Ficamos trabalhando quatro anos, depois nós fomos para
uma fazenda no Paraná do Ramos e depois viemos para Parintins. Nos éramos 12
filhos, dois já faleceram”, descreveu
Ecilio.
A
disposição do pai para arrumar trabalho logo o fez arrumar um serviço na
fazenda São Sebastião na Região de Várzea do interior de Parintins, e após nove
anos, com o dinheiro adquirido com a venda de um gado finalmente se
estabeleceram na cidade. Ecilio conseguiu um emprego na prefeitura como
vigilante, onde atuou por quatro anos, até que a eleição de Carlinhos da
Carbrás para prefeito pôs fim a guarda municipal, obrigando Ecilio a conseguir
uma nova fonte de renda.
Em
Parintins, os Cearenses são conhecidos pelo espírito empreendedor para o
comércio, e Ecilio chegou a montar uma pequena mercearia. Mas os negócios não
foram como ele esperava. “Eu montei um pequeno negócio, mas não deu certo e eu me desgostei dessa área”,
revelou ele, que em 1985 começou a atuar
como carroceiro.
Hoje
Ecilio continua trabalhando como carroceiro, e também possui um cargo
comissionado pela Prefeitura de Parintins na Coordenadoria de Esportes do
Município, e promove os jogos do campo dos carroceiros no bairro Paulo Corrêa.
Pai de sete filhos é casado com uma parintinense há 33 anos e revela que não
tem vontade de viver em outro lugar. “Eu não vivo do jeito que eu sonhei viver,
mas não posso reclamar. Aqui em Parintins consegui minha casa, tenho meu
trabalho, minha esposa, meus filhos e netos. Não nos falta saúde, e o mais
importante é que ainda tenho força e disposição para trabalhar”, concluiu ele,
revelando que tem vontade de visitar sua terra natal, mas que não tem vontade
de morar em outro lugar senão em Parintins.
Querendo se refugiar
dos assaltos freqüentes que recebia, Agemiro aceitou um convite feito por seu
amigo para viajar a Santarém. Chegando sem seu destino após uma longa viagem,
teve o amparo e auxilio de outros amigos, moradores daquela cidade.
Natural da Coeraú, interior de Fortaleza, o senhor
batalhador nunca recusou trabalho desde sua infância. Como tal, era comerciante
na cidade de onde veio. (Agemiro em seu Box de farinha e outros produtos)
Ao chegar em Santarém
um amigo lhe deu redes para vender com a proposta de quando as vendesse iria
repor o valor. Se apegando a oportunidade, Agemiro já tinha como começar a vida
ali. “O sol nem aparecia ainda e eu já estava de pé, colocava as redes na
costa, e saía com muita esperança” relata.
A vida que teve em
Terra Santa, outro destino traçado por ele, foi rodeada por algumas
experiências inesperadas. Quando não tinha onde dormir, a praça da pequena
cidade era sua única opção. Esteve também em Juruti onde conseguiu uma casa
abandonada para morar, submetendo-se à certos incômodos, pois a casa mal tinha
paredes.
Foi em Parintins que
conheceu sua atual mulher, Maria do Socorro. Agemiro se estabilizou foi então que
seus quatro filhos vieram para morar com o pai. Filhos da união com a
ex-mulher. Conseguiram se manter por um tempo, seus filhos continuaram os estudos.
Parintins foi o próximo
destino da família. Dessa vez as oportunidades chegaram com mais vigor. Sua
primeira ocupação foi com vendas de produtos regionais (trabalho que exerce até
hoje), com isso conseguiu alugar uma casa. Ainda assim, existiam as
dificuldades mais frequentes na família uma delas, era a lavagem da roupa feita
na beira do rio amazonas método usado durante um bom tempo.
Com o passar dos anos
os problemas foram sendo administrados pela família, fazendo com o que hoje
vivessem de forma equilibrada. Seu Agemiro têm todos os seus filhos formados no
segundo grau, o que o deixa com muito orgulho, sempre destaca em sua fala esse
sentimento. “Meus bebezao, já estão tudo formado. Graças a Deus e me sinto
feliz por ter cooperado para isso”. Um dos filhos, Agemiro Filho já está quase
concluindo o ensino superior na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo
curso de Engenharia Física.
Para essa grande
realização, de ver seus filhos se dedicando aos estudos o Pai dedicado
trabalhou duro para que isso ocorresse. Por isso por trabalhar com muita
exposição ao sol, Agemiro conta que já precisou viajar para Fortaleza tratamento
dermatológico. Daí a decisão de nunca mais ter tanta exposição aos raios
solares, nem por trabalho como por outra coisa.
Quando indagado pela
hipótese de voltar para morar em sua cidade natal Coeraú, ele conta que não
gostaria de sair de Parintins, pois é nessa cidade que se senti feliz, foi
nesse lugar que teve oportunidades que são realidades até hoje. Agemiro ama
tanto Parintins que “Daqui só vou, para traz da Catedral” relatou. Esse trecho
refere-se ao cemitério da cidade, ou seja, sairá apenas quando morrer.
Seu Agemiro visita seus
familiares em Coearú de vez em quando, vai a Fortaleza sempre que pode, mas não
sente vontade em voltar morar novamente em sua cidade natal, por conta dos
assaltos que sofria.
Atualmente morando com
Artemes um de seus filhos, Agemiro com 58 anos reside no Bairro da Francesa em
Parintins onde também têm seu pequeno comércio de produtos regionais. O mercado
municipal da Francesa (mas conhecido como Feira do Bagaço) proporciona ao
imigrante a oportunidade da venda de seus produtos. A farinha juntamente com os
materiais para serem a produzidos a farinha, como: tipiti, peneira, sacas,
cestos, abanador de cipó, remo, são oferecidos em seu box.
Nessa função exercida
por ele, não há tanto esforço físico, nem exposição ao sol. Conseguiu comprar
sua casa, tem a família estruturada financeiramente e emocionalmente, alcançou
e continua alcançando suas metas. Por fim, tem uma vida verdadeiramente pedida
a Deus.
Antigamente
na cidade do Maranhão havia um fato peculiar, a partir dos doze anos de idade, era
regra que todos os garotos da família trabalhassem. Era dever do rapaz com essa
idade cooperar com as despesas do lar. Os métodos mais frequentes de trabalho
eram na lavoura ou no garimpo, na plantação de soja, cebola, ou como atualmente
na plantação de cana. Foi baseado nessa criação que o seu Francisval Pereira Nunes
aprendeu a lidar com responsabilidade e esforço no seu trabalho.
Como
a prioridade era o trabalho, os estudos ficavam de lado. Não havia um incentivo
vindo de sua família para que estudassem, alegavam que com estudos os
resultados não são imediatos, ou seja, “não se ganhava dinheiro na sala de aula.”
E isso não foi diferente na vida de seu Francisval que hoje com 46 anos
consegue apenas escrever seu próprio nome e nada mais.
A decisão de vir morar em Parintins
surgiu pela intenção de melhoria financeira. Aceitando um convite de um amigo,
Francisval foi o único de sua família a apostar na nova ideia. “Vou passar
apenas um tempo em Parintins, caso não dê certo eu volto”.
Mesmo fixando em sua própria
residência nessa cidade o jovem senhor faz um esforço para uma visita anual aos
seus familiares do Maranhão. “Mesmo tendo muita saudade da minha terra, o custo
de vida lá é muito alto. Tudo é pago, até mesmo a água que se bebe, além de não
ter nenhuma oportunidade de crescimento”.
A
função exercida por ele na Ilha de Parintins há 16 anos é com vendas de utensílios
domésticos e variados produtos pela cidade e comunidades vizinhas como: Nhamundá,
Caburi, Juruti, Mocambo. Mesmo não tendo
acesso à sala de aula, sempre soube administrar seus bens resultando na
ampliação de seus negócios.
Ao
contrário do que foi ensinado quando era criança sobre a desvalorização dos
estudos, seu Francisval tenta agir diferente com seus filhos, tendo o apoio de
sua esposa Rosimary. Infelizmente o filho mais velho Christian, ainda não quer
cursar uma faculdade, pelo mesmo motivo defendido pelo pai em sua infância. O
filho pensa somente em trabalhar. Pois para ele a faculdade demora muito e o
trabalho não “As cobranças não tem dia, nem hora, nem domingo, nem doença” relata
o pai sobre o filho.
Persistência
Em se tratando de
trabalhar os personagens em questão “os Arigós”, faziam com que isso fosse para
muitos deles de fato prioridade. As inúmeras tarefas exercidas por eles tinham
o objetivo de manter-se como qualquer outro ser humano, o que os difere dos
demais é a persistência vinda unicamente deles próprios unidos com a certeza da
melhoria de vida.
Muitos são conhecidos
em Parintins por seus grandes comércios, os imigrantes nordestinos conhecidos
como “Arigós”, são pessoas batalhadoras que exercem seu papel, seja ele qual
for, com toda a responsabilidade e dedicação que podem oferecer.
Existem os que
conceituam esses nordestinos como fanáticos por trabalho. Mas deve-se lembrar
que já que são todos de outra parte do país vindos a este estado, então suas
histórias são parecidas como as que foram relatadas. Para chegarem a seu
destino, precisaram passar por uma série de situações muito difíceis,
resultando no esforço ofertado no trabalho para mostrar que todo o sacrifício
passado valerá à pena.
Amei essa reportagem sobre os cearenses em Parintis.
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