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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

ENTREVISTA COM ADRIANO AGUIAR

Por: Milanna Ambrósio e Vitor Gavirati

  "A sensação de emplacar uma  toada é como fazer um gol".


Na semana da gravação do DVD do Boi Caprichoso, o Jornalistando conversou com Adriano Aguiar, 28, compositor de toadas do bumbá azul. Em 2014, ele assina quatro canções que estarão presentes no repertório do touro negro. Adriano é um dos responsáveis por compor as toadas que o boi da estrela na testa usou como tema nos últimos três festivais folclóricos: A magia que encanta, Viva a cultura popular e Centenário de uma paixão. Na conversa com os universitários, Adriano Aguiar falou sobre as composições, os planos para o futuro e deu risadas ao contar histórias do mundo da toada.  


Jornalistando: Como surgiu o seu interesse em compor toadas?

Adriano Aguiar: Com uns doze anos de idade comecei a me interessar por toadas. Minha mãe toca violão e aprendi a tocar com ela. Sempre tive interesse em compor. Nos trabalhos de escola eu gostava de escrever paródias e procurava me envolver nessa parte de composição.


J.: Você compõe outros gêneros além de toada?

A. A.: No Carnaval eu componho marchinhas e, em época de campanha, faço jingles políticos. Nunca tentei outros gêneros, mas se tivesse oportunidade, eu arriscaria.



J.: A primeira toada que você escreveu foi logo aprovada?

A. A.: Não. Em 2003, compus duas toadas para concorrer, mas não passaram. Voltei a colocá-las na disputa junto com outras toadas em 2004, e não passaram. Eu desanimei, pensei que apenas composições entre as pessoas da “panelinha” da diretoria fossem aprovadas.



J.: E agora falam que você faz parte dessa “panelinha”...

A. A.: É verdade (risos). Agora eu estou no meio disso. Até entendo porque falam isso de que só pessoas “com nome” conseguem ter toadas aprovadas. Então, em 2007, com as mudanças que o Caprichoso sofreu na diretoria, na comissão de arte e itens, eu vi esse momento como uma nova chance de colocar as toadas no CD. Tanto é que tinha muita gente nova naquele ano, muito compositor novo. E então, foi aprovada a toada.



J.: Qual foi a primeira toada que passou?

A. A.: Na verdade, passaram quatro toadas: Deusa do Amor – que é uma das mais conhecidas, porque é da porta-estandarte – duas de figura típica e uma mais tradicional, que fala de boi.



J.: Pelo que observamos nas suas últimas composições, a maioria delas fala do amor pelo boi e do festival. Este é o tema que você prefere retratar nas toadas?

A. A.: Comentam muito pelo fato de eu conseguir emplacar muitas toadas, mas isso acontece porque eu faço toadas de todos os estilos, de celebração, de figura típica, de ritual, etc. Geralmente, cada compositor tem seu estilo, uns gostam de falar de tema, de tribo, e eu não. Já consegui fazer em todos os estilos, por isso, a possibilidade de passar mais toadas é maior. No início, eu fiz muitas toadas de figura típica. De 2010 pra cá, procurei compor toadas para a galera, toadas de festa e sentimento.



J.: Há algum motivo específico para isso?

A. A.: Financeiramente (risos), a que mais rende é a da galera, pois é mais tocada e tem mais arrecadação autoral. Não é como ritual ou lenda, que toca só uma noite. Mas eu gosto dos dois estilos, tanto a parte tribal quanto a de galera.


J.: Qual sua composição preferida?

A. A.: (Pausa) Na verdade, são três: A chegada do meu boi, de 2010, com a volta do David Assayag, que até hoje o Caprichoso entra com ela. “Até o coração já se rendeu, bateu mais forte quando viu meu boi chegar...” (cantou). Sensibilidade – não tem como não citá-la, porque é um outro formato de toada, que mexe com o emocional. A outra é Paixão De Uma Nação, do ano passado, que conta a história de uma pessoa que já fez de tudo no boi.



J.: Você busca expressar seu sentimento pelo boi nas toadas?

A. A.: Em algumas toadas é necessário expressar esse sentimento. Existem duas linhas de criação: as genéricas e as temáticas. Genéricas são as de item, da galera, de evolução, da Marujada, de entrada e temáticas são aquelas de ritual, lenda, figura típica, tribal e o tema principal do boi. De grosso modo, algumas necessitam fundamento teórico, outras, sentimento.



J.: Você falou das toadas de tema principal do boi. Nos últimos anos, suas composições são as escolhidas para embalar a temática do Caprichoso. Como você conseguiu isso, Adriano?

A. A.: De 2010 pra cá a gente vem acertando. Esse ano, Amazônia Táwapayêra, na verdade só não é a toada tema porque no CD existem três toadas que sustentam o tema.

Inovar e expressar o sentimento pelo boi

 são características das toadas de Adriano



J.: Adriano, agora explique aos nossos leitores: o tema principal do boi não é divulgado no edital, então, como acertar o tema na hora de compor?

A. A.: É aí que entra a questão da panelinha (risos). Na verdade, o slogan é divulgado, só que a proposta não (risos). Eles falam superficialmente, até para a proposta do boi não vazar. Como Táwapayêra, eles falaram que a apresentação teria algo mais místico, mais tribal, em que a Amazônia aparece de forma sobrenatural.



J.: Escrever uma toada de ritual ou lenda e que fale do místico dá mais trabalho, não é verdade?

A. A.: Sim, até porque quando você vai se inscrever no concurso de toadas é preciso entregar em anexo a pesquisa feita sobre o tema. Se levar um ritual sem fonte de pesquisa ele é desclassificado.



J.: Qual o seu método de trabalho na hora de compor?

A. A.: Às vezes, estou andando de moto, ou em um ensaio no curral e até mesmo no bumbódromo, e vem uma ideia, então, você pensa que ficaria legal uma toada sobre o que acabou de pensar. Mas tem aquele momento em que sentamos para compor, pegamos o violão, começamos a cantarolar, fazer melodias.



J.: Você tem algumas parcerias. Como funciona o trabalho de vocês?

A. A.: Tem o Geovane Bastos e o Guto Kawakami. O Geovane sempre foi meu amigo e gosta de boi. Em 2007, fizemos uma toada de figura típica. Desde então, mantemos essa parceria. Já o Guto é meu amigo há uns quatro anos, amizade que começou por causa do boi.



J.: De acordo com uma matéria publicada no site Parintins 24h, você ajudou a compor uma toada que estará no Combo Áudio Visual, mas foi sua mãe quem assinou com Geovane Bastos. Confirma isso?

A. A.: Na verdade, a minha mãe tinha uma melodia de música, eu só fiz algumas adaptações, porque o estilo dela de toada é aquele mais antigo, tradicional. Então, eu modernizei.

 

J.: Mas Adriano, o que você acha da modernização das toadas ?

A. A.: Eu acho que isso é bom. Não querendo desmerecer as toadas antigas, mas elas não traziam muito conteúdo, apenas o sentimento, a brincadeira do boi. Agora, com toda essa ramificação que o boi sofreu, com a entrada do estilo ritualístico a partir da década de 90, o ritual passou a ser a parte mais esperada do boi, a apoteose.



J.: Mesmo com todo o trabalho que envolve a composição de uma toada, percebemos que o compositor não é muito reconhecido. Você considera seu trabalho desvalorizado?

A. A.: Temos uma brincadeira interna entre os compositores. Quando estamos reunidos, comentamos que o nosso momento na mídia é só quando divulgam as toadas (risos). Depois disso, é item e alegoria, que dão vida à ideia da toada.



J.: O que um compositor precisa fazer para ter suas toadas emplacadas com sucesso?

A. A.: Tem que ser bom (risos)! Ele tem saber o que está fazendo, procurar ouvir a opinião de outras pessoas, não ficar apenas com a sua impressão da toada. Eu faço isso! Tem gente que até brinca porque eu faço lobby, ou seja, ligo para alguém da diretoria e peço para eles ouvirem a toada. Quando os outros compositores descobrem, eles brincam: ‘Ah, você estava cantando para o cara?!’ (risos). Além disso, tem que inovar! As rimas estão muito batidas, são as mesmas expressões em muitas toadas.


J.: Você sempre compôs para o Caprichoso. E toada para o Garantido? Jamais?

A. A.: (Pausa) Tem uma história que algumas pessoas lembram de vez em quando, mas eu prefiro não lembrar (risos). Tem um concurso de toadas em Parintins. Em 2011, eu escrevi Miscigenação com Enéas Dias, compositor do Garantido. Nós colocamos essa toada para concorrer e ela foi a campeã. Quando uma toada ganha esse concurso, ela vai direto para o CD do boi. E para ter mais chances de ir para o CD, escrevemos toadas para os dois bois. A que escrevi para o Caprichoso ficou em terceiro lugar, e a Miscigenação, que escrevemos para o Garantido, foi para o CD. Até oferecemos ao Caprichoso, mas eles recusaram. O Garantido aceitou sem imaginar a repercussão que teria, porque praticamente levou o boi ao título. E hoje falam que fui um dos culpados pela derrota do Caprichoso (risos). No CD, a toada ficou no nome do Enéas e do meu cunhado.



J.: O que você espera da gravação do DVD do Caprichoso e do festival esse ano?

A. A.: A gravação vai ser muito bacana. Vai ser diferente de todas as gravações que os bois já fizeram. É uma proposta nova, que envolve magia, misticismo, algo teatral. Vai valer a pena participar disso, vai ser épico! Sobre o festival: acho que vai dar Caprichoso (risos).



J.: E quais os seus projetos para o futuro, Adriano?

A. A.: Eu estou escrevendo um livro sobre a divisão que existe entre as toadas agora: as temáticas e as genéricas, que podem ser chamadas de comerciais e de arena também, respectivamente. Se tudo der certo, antes do festival estarei lançando.

GRUPO: Gilvaneide Castro; Kayla Lima; Milanna Ambrósio; Vitor Gavirati; Wanderley.
Créditos de foto: Facebook de Adriano Aguiar e Site Parintins.com

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